Fintech que adianta 'stock options' tokeniza nota comercial de R$ 110 mil
14 de dez. de 2023
Matéria publicada originalmente em Valor Econômico em 19/07/2023 | Por Toni Sciarretta
Token possibilitou o adiantamento de recursos para um dos sócios de uma startup de crédito estudantil pelo prazo de dois anos
A fintech Stockash, que trabalha com o adiantamento de “stock options” de executivos e empreendedores, fez a tokenização de uma nota comercial no valor de R$ 110 mil. A operação ocorreu em parceria com a Laqus, que faz depósito de valores mobiliários; a Amfi, fintech que atua com tokenização e pools de liquidez de ativos digitais; e a Olivério Advogados.
Segundo Luiz Gidrão, fundador e CEO da Stockash, o token possibilitou o adiantamento de recursos para um dos sócios de uma startup de crédito estudantil pelo prazo de dois anos.
A captação foi desenhada por meio de uma nota comercial emitida em duas séries, em que uma estabelece o pagamento relativo à dívida em si e a outra prevê um “equity fee”, uma espécie de prêmio a ser pago aos investidores quando o colaborador tiver a liquidez de suas ações.
A operação é uma das primeiras no país envolvendo token de nota comercial depois que a SMU Investimentos, que participa do sandbox regulatório da CVM, viabilizou duas captações neste ano - uma de R$ 1 milhão para a More.co, startup imobiliária, e outra de R$ 600 mil para o Grupo Muda, que faz gestão de resíduos sólidos e logística reversa.
O token da Stockash tem previsão de rendimento de 24% ao ano, com prazo de dois anos, sem contar o “equity fee”.
A distribuição dos tokens foi privada para a carteira dos próprios sócios da Stockash. A expectativa é fazer uma nova tranche desta mesma nota comercial, podendo liberar até R$ 2,5 milhões para o mesmo contratante, que usa um holding de sua titularidade, disse Gidrão.
Além de custo competitivo em relação a outras formas de crédito, a nota comercial tokenizada conta com isenção de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Fundada em fevereiro deste ano, a Stockash é a primeira fintech no Brasil a oferecer esse tipo de crédito voltado para liberar liquidez para executivos e fundadores de startups e outras empresas que já tiveram diversas rodadas de investimento e passaram por “valuations" com a chancela de gestores de venture capital renomados.
Esse foi o segundo adiantamento da fintech, que totaliza R$ 350 mil em empréstimos. A primeira operação liberou recursos para um executivo que já tinha deixado uma empresa poder exercer sua opção de comprar mais ações dentro do limite do prazo permitido.
A startup prevê conceder entre R$ 20 milhões e R$ 35 milhões em empréstimos e gerar mais de R$ 1,5 milhão em receita até o fim do ano.
“Nosso produto preenche uma lacuna significativa, apoiando os colaboradores na realização de seus sonhos, mas, principalmente, atendendo suas necessidades, ao mesmo tempo que permite às empresas atrair, engajar e reter talentos”, disse Gidrão.
“A Stockash ataca uma questão comum no mercado: a falta de valor percebido das ‘stock options’ pelos colaboradores”, disse Leopoldo Braga, fundador e CTO da Stockash.
Segundo os executivos, a motivação para a tokenização veio do objetivo compartilhado entre as três empresas participantes da operação de reinventar os modelos tradicionais de acesso ao crédito por meio da tecnologia, possibilitando que mais investidores participem dessa forma de investimento.
Eles afirmam que a emissão seguiu as diretrizes recentes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), estando em conformidade com os requisitos estabelecidos pelo regulador para a emissão de tokens de renda fixa.
Segundo Rodrigo Amato, fundador e CEO da Laqus, o objetivo da fintech é demonstrar, na prática, que é possível a existência de um valor mobiliário digital em conformidade com as regras existentes.
“Além de trazer a segurança do mercado tradicional com as vantagens da tecnologia, mostra a versatilidade da nota comercial, em que montamos uma estrutura híbrida, com um componente de remuneração em renda fixa, como uma dívida, mais um prêmio atrelado ao equity do colaborador. Vemos potencial de uso em outros clientes também”, disse Amato.
Na operação, a AmFi foi responsável por tokenizar o ativo emitido, atribuindo os direitos aos detentores dos tokens.
“Acreditamos no potencial do uso de blockchain como uma forma de destravar liquidez de ativos hoje ilíquidos, com maior transparência, controle e segurança”, disse João Pirola, sócio da AmFi.